Minitransposição para garantir o abastecimento do Agreste

Com a situação climática longe de ser revertida, a região do Agreste é uma das mais afetadas pela falta de chuva. Sem previsões no curto prazo, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e o Governo de Pernambuco vão pleitear R$ 25 milhões de recursos federais para construção de um canal de transposição com intuito de socorrer os municípios, que sofrem com o racionamento, e preservar a barragem de Jucazinho, uma das mais afetadas pela estiagem. Atualmente, ela é responsável por alimentar 14 municípios e está com 13,6% da sua capacidade.

De acordo com o diretor Regional do Interior da Compesa, Leonardo Selva, a ideia do projeto é que a água seja transportada do Carmevô, rio perene localizado entre Bonito e Palmares, para Barragem do Prata, situada entre Bonito e Agrestina. “Cerca de 500 litros por segundo de água serão levados através de uma adutora (a ser construída) para o Prata, aumentando a vazão de regularização”, explicou Selva. De lá, a água seguirá, por meio de um canal já existente, para Caruaru, quando outras cidades, co­mo Bezerros, São Caetano e Santa Cruz do Capibaribe, poderão também receber o líquido. Todas elas estão em rodízio de água.

Hoje em dia, a barragem do Prata já encaminha a mesma quantidade, mas, quando – e se entrar em operação -, a ideia é abastecer Caruaru, e demais municípios, em mil litros por segundo de água, ao todo. “Vamos mandar a água para cidades vizinhas através de plataformas já implantadas, como por sistemas de interligações”, justificou o diretor.

Para isso se concretizar, uma comitiva, com o presidente da Compesa, Roberto Tavares, e com o secretário de Desenvolvimento Econômico (Sdec), Thiago Norões, segue para o Ministério da Integração Nacional amanhã. Na ocasião, os representantes vão apresentar uma nota técnica e pedir o repasse “emergencial”. O valor será usado para construção da adutora e duas estações elevatórias. Projetada para ser feita em tipo “tubulação de engate rápido”, a obra terá extensão de 30 quilômetros (km), podendo ser concluída em três meses.

Segundo Selva, se nada for feito, ou seja, se deixar Jucazinho na mesma situação de ho­­­­je, com a retirada de 1,2 mil litros de água por segundo, a reserva disponível só durará até outubro deste ano. Se o Gover­­­no Federal concordar, dando a possibilidade de preservar a barragem, o volume existente poderá chegar até o ano que vem e o atendimento aos demais 13 municípios terá um alcance mais linear e eficien­­­­­te. Jucazinho, atualmente, é responsável por abastecer Caruaru com 800 litros por segundo.

Essa é uma solução, na opinião do diretor, enquanto a Adutora do Agreste não chega. Prevista para 2017, essa obra é a solução para 68 municípios da região. Questionado se a empreitada seria um gasto duplo, Selva respondeu que como trata-se de uma adutora de engate rápido, os tubos poderão ser comprados e recolhidos quando não estiveram em uso, de modo que o investimento seja reaproveitado em caso de novo evento de emergência. O Ceará e o Rio Grande do Norte já usam esse tipo de tecnologia.

Previsões desanimam

As previsões climáticas não dão trégua para a Região do Agreste. De acordo com a meteorologista da Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac), Edivânia Santos, o prognóstico de chuvas para os meses de março, abril, maio e junho estão abaixo da média, quando deve chover o equivalente a 388 milímetros (mm). O motivo? “Estamos em uma evolução do El Niño. Essa fase inibe a precipitação na região semiárida, fazendo com que a chuva não chegue com boa qualidade no local”, observou.

Em função dessa estiagem prolongada, há setores produtivos que ainda sofrem na região, como é o caso dos pecuaristas. De acordo com Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), em novembro de 2011, havia 2,5 milhões de gados de leite no Estado. Dois anos depois, esse quantitativo caiu para 1,8 milhão e, praticamente, se manteve até hoje.

Na Região Metropolitana do Recife (RMR), no entanto, a perspectiva de precipitações é boa. Nos meses de abril, maio, junho e julho, a esperança é de que chova em média 890 mm. “O panorama é diferente porque acaba chovendo nos locais mais próximos do oceano. Os regimes em questão são bem diferentes, sobretudo, por conta do relevo”, detalhou a meteorologista. Por aqui, a fase úmida, quando se espera que chova nas barragens, começa em abril e termina em julho.

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