Artesanato de madeira de Sertânia pode ser contemplado com projeto de Identificação Geográfica da Adepe e do Sebrae

Foto: Roberta Guimarães/Fenearte

O artesanato de madeira de Sertânia, assim como o bolo de rolo, a renda renascença de Poção e o artesanato de barro de Caruaru são mais do que produtos: fazem parte da identidade dos pernambucanos. Agora, uma parceria entre o Governo de Pernambuco, através da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (Sebrae/PE) buscará trazer ainda mais notoriedade para esses e outros ícones da cultura pernambucana. Juntas, as instituições irão desenvolver um projeto para propor o reconhecimento de 13 Indicações Geográficas (IGs) para o estado com aporte de R$ 2,9 milhões que será rateado pelas duas instituições.

O artesanato em madeira de Sertânia, município localizado no Sertão do Moxotó em Pernambuco, A Aaa destaca-se pela produção de esculturas que refletem a cultura e o cotidiano sertanejo. A tradição teve início com famílias locais que, utilizando madeiras nativas da caatinga, como umburana e cedro, começaram a esculpir peças representando figuras humanas, animais e cenas do dia a dia. Essas obras são marcadas por traços finos, expressivos e detalhados, evidenciando a habilidade e sensibilidade dos artesãos.

Um dos nomes mais proeminentes do artesanato de Sertânia é Marcos Paulo Lau da Costa, conhecido como Marcos de Sertânia, pertencente a uma nova geração de Mestres da Arte Popular. Desde os 12 anos, ele aprendeu a arte da escultura com seu avô e tios, que produziam utensílios domésticos de madeira.

Foto: Cesar de Almeida

Marcos desenvolveu um estilo próprio, criando peças que retratam a vida e os desafios do sertanejo, como a famosa escultura da cachorra Baleia, inspirada no livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos. Suas obras já foram expostas em diversas feiras e galerias, alcançando reconhecimento nacional e internacional.

A atividade é uma importante fonte de renda para famílias na região. As peças são comercializadas em feiras de artesanato e de decoração como a Fenearte e a CasaCor, em mercados locais e em eventos culturais, sendo adquiridas por turistas e apreciadores da arte popular. O reconhecimento do artesanato em madeira de Sertânia como Indicação Geográfica (IG) contribui para valorizar e proteger essa expressão cultural, assegurando a autenticidade das peças e promovendo o desenvolvimento sustentável da atividade. Além disso, a IG fortalece ainda mais a economia local, ampliando mercados e agregando valor aos produtos artesanais da região.

O projeto Adepe/Sebrae tem o objetivo de identificar, estruturar e solicitar o registro das novas IGs junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Atualmente, Pernambuco conta com três IGs registradas: Vinhos do Vale do São Francisco, Uvas e Mangas de Petrolina e o Porto Digital no Recife. Em todo o país, são 130 Indicações Geográficas, a maior parte delas presentes em estados com fortes tradições agrícolas e artesanais, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.

Além do artesanato de madeira de Sertânia, também foram selecionados os seguintes produtos para estudos: mel e queijo coalho do Araripe, barro de Caruaru, abacaxi de Pombos, café de Triunfo, manta caprina da região de Dormentes, artesanato de Tracunhaém e a renda renascença de Poção, além de produtos gastronômicos como bolos de noiva, de rolo e Souza Leão. O projeto de ampliação das IGs será desenvolvido em quatro etapas: diagnóstico, estruturação, submissão dos pedidos e acompanhamento dos processos. A expectativa é de que o projeto esteja finalizado até 2026.
Para a Adepe, essa iniciativa representa um grande avanço na valorização dos arranjos produtivos locais, além de dar visibilidade a produtos tradicionais e inovadores de Pernambuco. “É missão da Adepe fomentar o desenvolvimento dos arranjos produtivos de todo o Estado, em seus 184 municípios. O Projeto de Identificação Geográfica vem para dar destaque àqueles mais relevantes e torná-los exemplo da valorização do que é produzido em Pernambuco. O crescimento do nosso PIB dá sinais claros da importância da nossa agricultura e dos nossos arranjos produtivos e estamos muito felizes em sairmos na frente com este projeto ao lado de um parceiro tão importante como é o Sebrae Pernambuco”, detalhou o presidente da Adepe, André Teixeira Filho.

Superintendente do Sebrae/PE, Murilo Guerra destaca que a iniciativa ajuda a valorizar a riqueza dos territórios pernambucanos e a promover o desenvolvimento dos pequenos negócios. “A valorização do regionalismo tem se consolidado como uma estratégia importante para estimular o desenvolvimento econômico e social e ampliar a competitividade nos mercados nacional e internacional. O reconhecimento das Indicações Geográficas protege o conhecimento tradicional ao mesmo tempo em que agrega valor aos produtos e serviços locais”, enfatiza.

MAIS

As Indicações Geográficas são certificações concedidas a regiões que se tornaram conhecidas ou apresentam características distintivas ligadas a um produto ou serviço. Elas podem ser classificadas como Indicação de Procedência (IP), quando a região já é reconhecida pela produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço, ou Denominação de Origem (DO), quando há uma ligação entre as características do produto e seu meio geográfico e dos fatores naturais e humanos ali presentes.