A queixa dos artistas é da terceirização do projeto de apoio à cultura

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Agora que o assunto se tornou público, ganhou as redes sociais e foi bater até na polícia, está na hora de o governador Paulo Câmara chamar os seus secretários de Turismo e de Cultura para uma conversa séria de pé de orelha.

Para saber que diabos de projeto de apoio cultural é esse que os seus secretários desenvolvem em Pernambuco que está gerando tanta insatisfação na classe artística explicitada tão forte em grupos de WhatsApp? E porque eles se queixem num nível de indignação tão alto e levantem suspeitas de pagamento de propina de até 50% sobre os cachês dos shows como acusou o cantor André Rio?

É importante esclarecer. A questão não é relativa à idoneidade de Felipe Carreiras e de Marcelino Granja, respectivamente, secretários de Turismo e de Cultura, nem de Ana Paula Vilaça e de Márcia Souto, respectivamente presidente da Empetur e da Fundarpe. A questão é a denúncia de que Pernambuco adotou um modelo de incentivo cultural que permite a intermediação de empresários que exploram os artistas cobrando percentuais de participação e que, como denuncia André Rio, podem chegar aos 50%.

Então, a questão é bem mais ampla. A questão, é importante ficar claro, não é se Carreiras, Granja, Vilaça e Souto se envolvem em atividades ilícitas. Não é essa a acusação. Todos merecem o respeito sobre sua honra e integridade. A questão é se há fundamento na suspeita de que os quatro gerenciam um modelo de gestão que permite esse tipo de personagem o que evidencia uma espécie de terceirização do projeto de apoio à cultura em Pernambuco que abriria a possibilidade de atividades ilícitas de que falam com indignação os artistas.

A acusação sobre o modelo fica mais grave quando personagens como o maestro Spok vêm a público se queixar da falta de apoio do governo do estado, exatamente, pela adoção desse tipo de conceito, comparando-o com o que acontece na Prefeitura do Recife e apoiada por vários outros artistas. Eles reconhecem o apoio do prefeito Geraldo Júlio aos artistas locais seja na festividade do Carnaval, Fim do Ano e do São João o que nos remete à questão: porque a Prefeitura acerta e porque o Governo do Estado erra.

E é por isso que o governador Paulo Câmara precisa chamar os quatro para fazer uma pergunta simples: aonde foi que nós erramos ao ponto de hoje a classe artística levantar suspeitas sobre a idoneidade dos propósitos de nossa política cultural?

As respostas podem estar em procedimentos simples, aliás apontados pelos artistas. O governo é liberal demais no pagamento de apoio cultural para suas festas. Na prática, libera o dinheiro do contribuinte para um prefeito ou uma fundação sem ter a certeza se isto está de acordo com a política de apoio cultural de Pernambuco. Dito de outra forma: Traga-me a nota fiscal e escreva o edital dentro da lei que pago ao artista que for em nome da liberdade de escolha do interessado.
É disso que se queixam os artistas. De que o modelo é aberto a ponto de permitir que, em nome de atender ao interesse do prefeito, que diz atender o interesse de sua comunidade, o estado pague atrações de fora do estado e cachês que artistas locais não têm acesso. É isso que permite os intermediários.

Há dezenas de exemplos de que essa liberdade que o estado dá às prefeituras no Diário Oficial do Estado pelo pagamento de artistas com dinheiro do contribuinte através de produtoras. Assim como há no noticiário a ausência de interesse na contratação de artistas locais e de referência e ligação com as raízes de nosso estado.

O próprio Maestro Spok relata a produção de um CD sobre o São João que não teve qualquer atenção do Estado que não o colocou na lista de cidades em que apoiou. Ou do caso de Exu, a terra de ninguém menos de Luiz Gonzaga que este ano não teve São João porque não recebeu R$ 1,00, sequer, da Fundarpe e da Emeptur.

Então, o debate não se restringe ao fato do desabafo de André Rio, Cezinha e Spok, ou do depoimento de apoio ao Governo de Maciel Melo, Petrúcio Amorim, Alceu Valença, Maestro Forró e Nena Queiroga. A questão é: que tipo de política cultural Pernambuco adota que abre um debate desse nível e que chega às delegacias de polícia?

O que os artistas se queixam é que o modelo adotado pelo estado permite esse tipo de personagem. E é crível de verdade quando, num manifesto, vários deles afirmam, como afirmaram, que nunca receberam propostas desse tipo de servidores ligados à Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) e à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Correto, não é contra a honestidade de Carreiras, Granja, Vilaça e Souto. Não é disso que trata a denúncia de André Rio.

O que se fala é o modelo que o Estado a dotou que permite a atuação de ‘atravessadores’ que se interpõe no circuito assim como criticam a gestão Paulo Câmara pelo prazo para o pagamento de cachês.

Uma pesquisa no Portal da Transparência e no Diário Oficial da internet permite confirmar o que André Rio denúncia sobre a montagem de uma grade de shows apenas nas vésperas dos eventos. Não é aceitável que isso aconteça.

Por isso é que agora o assunto está nas redes sociais, talvez esteja na hora do Governador Paulo Câmara chamar os quatro gestores para uma conversa sobre o que está acontecendo na sua política cultural.  As críticas ficaram grandes demais e põem em cheque a seriedade de seu governo.

Mas, pelo seu histórico Paulo Câmara não terá dificuldade em tratar disso. Até porque, no governo Eduardo Campos, ele próprio foi escalado para gerenciar uma crise na mesma pasta e cujo tema era, exatamente, esse da contratação de shows musicais. O que, pelo visto, as determinações que fixou na época voltaram a apresentar problemas.

Do JCOnline

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