Escreve, Leitor! – Confesso que vivi “7 de Setembros Passados”.

Por Professor José Ivan de Lima

Cheguei atrasado ao desfile escolar. Um amigo (Bá) falou-me que o Olavo Bilac ainda não tinha desfilado, então resolvi ir atrás, como se buscasse resgatar emoções do passado. Andei lentamente no meio do povo, curtindo a liberdade ainda recente, de não mais ter que estar em cima de palanque . Reconhecido, falei com pessoas que também esperavam. Fui subindo a avenida até chegar ao universo “verde e branco”. Jovens, motivados pelo determinado e vibrante Prof. Gilberto Cosme , esperavam , inquietos com a costumeira demora de quem estava na frente, a sua hora de exibição.

Começa o desfile, e aos poucos vai aumentando o glamour e as palmas. Mocinhas vestindo a romântica saia verde plissada, com blusa branca e gravata verde, aumentavam o colorido daquela tarde sertaneja, evocando outras de tempos memoráveis. Se elas soubessem como estavam bonitas, dormiriam com essa roupa por muitos dias. Os olhos se molham delicadamente , iguais ao pássaro que se entrega à chuva por alguns minutos. O fluxo de gente aumentava enquanto surgiam novas palmas e gritos de entusiasmo. Musas do passado, ainda com muito brilho, também passavam por mim, seria bom que o brilho nunca apagasse. O carinho com o evento cívico era empolgante em pessoas como Zé Etelvino, Diretor da escola quando fui aluno e Pe. Cristiano, quando fui Professor. Relembro momentaneamente, quando marchávamos como se militares fôssemos. Nesse tópico, O GIAL ( Ginásio Amaro Lafayette ), era superior e impecável. No presente a multiculturalidade, miscigenação e realidade social do povo brasileiro, escorregam pelo asfalto como enredos, naquele começo de noite sertaneja, de mais um 7 de setembro. E eu estava ali. Lembrando a única coisa de elite que imaginei ser um dia. Aluno do Ginásio Olavo Bilac, numa época que o ensino lá era pago e para ter acesso, tínhamos que passar por um teste seletivo, chamado de admissão ao ginásio. Passei, matriculei-me, deslumbrei-me com tudo que tinha lá, e quando no final do ano fui reprovado em cinco matérias, vi minha vaidade elitizante desaparecer para sempre.

É incrível como o povo gosta dessa festa. Chega a esperar de pé, horas a fio, vítima dos atrasos recorrentes e infelizmente tolerados. Só vai para casa quando tudo termina. Mas é preocupante o modo em moda, de desdenhar do lado cívico. E a maioria dos nossos jovens faz isso. Para eles tem que haver muitas cores, luxo, modismo, ostentação e conveniências, como alguns pontinhos a mais no boletim escolar. Não sei até quando as escolas através dos seus educadores conseguirão integrá-los. Só sei que o povo sempre os esperará e eu, que dediquei 26 anos de minha vida ao “Olavo Bilac”, como professor e diretor, estarei no meio desse povo, ternurado por aquele “ frio na espinha”, para ver no 7 de setembro, minha escola descer a ladeira da Avenida Agamenon Magalhães de forma até voluptuosa, “ linda, leve e solta ” para olhos e ouvidos saudosos mas realistas.

Sei que o passado não volta, só reaparece, mas sei também que não foi apena o poeta chileno Pablo Neruda que disse uma vez, o que eu também digo agora “Confesso que vivi.”

Professor José Ivan de Lima é vereador. Já execeu os cargos de gestor educacional, prefeito, ex-prefeito,  e presidente da Câmara de vereadores de Sertânia.

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